Peregrino ou Pop?, por Fernando Volpi

Fernando Volpi
Ascom

Não precisei de muito tempo quando assumi a Secretaria de Turismo e Esporte de Canavieiras para concluir que um dos caminhos para a recuperação da cidade como destino turístico podia estar na divulgação diretamente ao ponto, com mostruário e argumentos persuasivos que se tornam mais eficazes quando apresentados pessoalmente, cara a cara, olho no olho, como faziam os antigos caixeiros-viajantes.

Percebi que a conexão via internet, lenta demais e sujeita a quedas nos momentos mais importantes dos contatos, inibia os resultados e nada garantia além da infalível fatura mensal do provedor. Foi quando decidi viajar, visitar as principais cidades das 13 Zonas Turísticas da Bahia, além de participar dos eventos promovidos pelo setor turístico nos grandes centros, precedidos de criteriosa análise de interesse para o município.

Adquiri meu “turismóvel” 1.0 na Evolução Veículos, em Canavieiras, e iniciei, com total apoio do prefeito Almir Melo e de alguns setores da iniciativa privada, confiantes no Governo da Reconstrução, a peregrinação divulgadora em toda a Costa do Cacau, seguida das Costas: do Dendê, do Descobrimento, Caminhos do Sudoeste e a Chapada Diamantina. Os contatos começam pelo secretário de Turismo ou seu coordenador e se estendem às operadoras e agentes autônomos previamente identificados e agendados. Todos recebem o “Kit Setur” composto de peças de artesanato de nossa cidade, com destaque para o caranguejo do artesão e marceneiro Manoel, cuja criação se tornou a mascote de minha missão itinerante. Compõem ainda o Kit Setur, fotos e um DVD.   Invariavelmente, falo da Costa do Cacau como um todo, abordando as peculiaridades de cada destino turístico da Zona cujas paisagens, na maioria das vezes, se assemelham.

Nossos diferenciais, todavia, recebem o merecido destaque por ser,  Canavieiras, cidade plana, entrecortada por rios e igarapés, manguezais, praias quilométricas e virgens e uma centena de atrativos ainda não devidamente explorados turisticamente de maneira sustentável.

O slogan “Canavieiras Turismo Total” sintetiza tudo o que venho apresentando nas visitas e palestras, desde o turismo de sol e praia até o náutico, passando pelo ecoturismo, turismo rural, de aventuras, esportivo, gastronômico e tudo mais que a empolgação e a inspiração transformam em palavras. Eis aí, aliás, uma das motivações e a mais eloquente justificativa para que eu desafie as limitações de meus 70 anos e consiga ir tão longe (no último percurso foram quase 2 mil quilômetros) nessa peregrinação tática: conseguir traduzir a emoção de apresentar e oferecer Canavieiras em sua totalidade exuberante, o que me seria impossível na muda apresentação do papel ou dos irritantes e-mails.

Muitos contatos foram adiantados no III Salão Baiano de Turismo, em Salvador, o que me poupará algumas centenas de quilômetros, principalmente quanto às Zonas “Caminhos do Oeste” e “Vale de São Francisco”, por enquanto, cujos gestores estavam no evento e tivemos tempo suficiente para alinhavar uma salutar cooperação. Mas ainda devo cobrir algumas cidades da Zona Turística “Caminhos do Sertão” e, antes, as cidades da “Caminhos do Jiquiriçá”, zona turística quase vizinha.

Secretário peregrino, secretário pop (em alusão ao meu vestuário Rock and Roll), são títulos carinhosamente atribuídos a mim por aqueles que me seguem diariamente em vários sites de relacionamento, atentos às postagens de tudo o que tenho empreendido pelo desenvolvimento do turismo em Canavieiras, mesmo esbarrando em obstáculos comuns à maioria dos secretários, como constato pessoalmente. O mais importante em todo esse marketing estilizado e adaptado às circunstâncias é que estamos procurando seguir – talvez ao pé da letra – as diretrizes dos órgãos dos governos federal e estadual no programa “Bahia Visita Bahia”, bem como do governo municipal quando ouço do prefeito, quase em tom de ultimato, determinações para que eu consolide na opinião da Bahia e do Brasil o conceito de nossa cidade como destino turístico, resgatando sua posição no ranking e reconduzindo-a ao patamar do qual nunca devia ter baixado na última década de administração oca e inábil.

Sou peregrino, sou pop, mas sou ao mesmo tempo um responsável secretário não muito político e cheio de manias que tenta devolver para a municipalidade aquilo que ela me dá escancaradamente e sem parcimônia: amizade, confiança, otimismo, esperança, motivação e – como já afirmei – inspiração.

Não me canso de enfatizar com os operadores e agentes de turismo que oferecer Canavieiras não é tarefa difícil. Basta conhecê-la bem e dirigir a publicidade para o público-alvo que se identifique com as nossas condições de recebê-lo, sem expectativas fantasiosas. Há um processo de aperfeiçoamento do receptivo e de inovação nos produtos e serviços em andamento, para que o turista se sinta realmente inserido na paisagem e se transforme em agente multiplicador consciente e admirado com o que viu e viveu em Canavieiras. Cá entre nós, todo secretário é, no fundo, um peregrino. POP, poucos.

O autor Fernando Volpi é secretário de Turismo de Canavieiras